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HOMO DEUS – UMA BREVE HISTÓRIA DO AMANHÃ
Yuval Noah Harari
Companhia das Letras
443 páginas
A venda nas livrarias Paraler : www.paraler.com.br
DATAÍSMO: A RELIGIÃO DO FUTURO?
“Descobrir os próximos passos da evolução humana será também redescobrir quem fomo e que caminhos tomamos para chegar até aqui”.
O livro Homo Deus- uma breve história do amanhã, de Yuval Noah Harari, — nesses dias de dúvidas e inseguranças quanto ao nosso futuro e o futuro do país — abala as crenças de seus leitores caso não tenham elas a resiliência intelectual necessária para conhecer e digerir os novos conceitos nele encontrados.
Concordo com a opinião do Financial Times quando diz que é impossível resumir esse livro emocionante e revelador, mas vou tentar.
Para o futuro do mundo — afirma o autor — numa visão realmente ampla da vida, temos que concordar com a existência de três processos interconectados;
- A ciência está convergindo para um dogma que abrange tudo e que diz que organismos são algoritmos, e a vida, processamento de dados.
- A inteligência está se desacoplando da consciência.
- Algoritmos não conscientes mas altamente inteligentes poderão, em breve, nos conhecer melhor do que nós mesmos.
Diante da inexorabilidade desses três processos, ele conclui: “É improvável que as novas religiões emerjam das cavernas do Afeganistão ou das madraças do Oriente Médio. Vão, sim, emergir dos laboratórios de pesquisa. Assim como o socialismo tomou conta do mundo com promessa de salvação por meio do vapor e da eletricidade, nas próximas décadas as novas tecnoreligiões poderão conquistar o mundo prometendo salvação por meio de algoritmos e genes”.
Uma possível nova religião, ou tecnoreligião, será o dataísmo:”O dataísmo não se limita a profecias ociosas. Como toda religião, tem, seus mandamentos práticos. Primeiro e preliminarmente, um dataísta tem de maximizar o fluxo de dados conectando-se cada vez mais mídias, produzindo e consumindo mais e mais informação. Como outras religiões bem-sucedidas, o dataismo também é missionário. Seu segundo mandamento é conectar tudo ao sistema, inclusive hereges que não querem ser conectados. E ‘tudo’ que dizer mais do que humanos. Quer dizer tudo quanto é coisa. Meu corpo, é claro, mas também os carros na rua, as geladeiras na cozinha, as galinhas em suas gaiolas e as árvores na floresta V tudo deveria se conectar à internet de todas as coisas. A geladeira vai monitorar o número de ovos na gaveta e informar a galinha na gaiola quando uma nova entrega for necessária. Os carros vão conversar uns com os outros, e as árvores na floresta vão informar sobre o clima e os níveis de dióxido de carbono. Não podemos deixar nenhuma parte do Universo desconectada da grande rede da vida. Inversamente, o maior dos pecados é bloquear o fluxo de dados. O que é a morte senão uma situação na qual as informações não fluem? Por isso o dataísmo sustenta que a liberdade de informação é o maior bem de todos”.
Eis aí a importância, já hoje, da tão desejada transparência: “Por que os Estados Unidos cresceram mais rapidamente do que a União Soviética? Porque a informação fluía mais livremente no Estados Unidos. Por que os americanos são mais saudáveis, mais ricos e mais felizes do que os iranianos ou os nigerianos? Graças à liberdade de informação. Assim, se quisermos criar um mundo melhor, a chave para isso é deixar os dados livres”.
Quanto ao instigante título do livro, ele é justificado pelo seguinte: “O sucesso alimenta a ambição, e nossas conquistas recentes estão impelindo o gênero humano a estabelecer objetivos ainda mais ousados. Depois de assegurar níveis sem precedentes de prosperidade, saúde e harmonia, e considerando tanto nossa história pregressa como nossos valores atuais, as próximas metas da humanidade serão provavelmente a imortalidade, a felicidade e a divindade. Reduzimos a mortalidade por inanição, a doença e a violência; objetivaremos agora superar a velhice e mesmo a morte. Salvamos pessoas da miséria abjeta; temos agora de fazê-las positivamente felizes. Tendo elevado a humanidade acima do nível bestial da luta pela sobrevivência, nosso propósito será fazer dos humanos deuses e transformar o Homo sapiens em Homo deus”.
E o autor termina propondo três questões-chave que ele espera que fiquem gravadas na mente do leitor muito depois dele ter terminado a leitura desse seu livro:
- Será que os organismos são apenas algoritmos, e a vida apenas processamento de dados?
- O que é mais valioso — a inteligência ou a consciência?
- O que vai acontecer à sociedade, aos políticos e à vida cotidiana quando algoritmos não conscientes mas altamente inteligentes nos conhecerem melhor do que conhecemos?
Homo Deus é um livro brilhante sobre a história da humanidade e, da mesma forma que Henning Mankell: “ Fico triste em pensar nas pessoas que não vão lê-lo”.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO