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Livro – O Aleph

Livro – O Aleph

O ALEPH

Jorge Luis Borges

Editora Suma de Letras

156  páginas

A venda nas livrarias Paraler  : www.paraler.com.br

 

O ALEPH E O HOLOGRAMA

“Envergar o mundo num grão de areia / E o céu numa flor silvestre, / Segurar o infinito na palma da sua mão, / E a eternidade em uma hora”.

Willian Blake – poema Auguries of Innocence

 

A ideia da existência um Aleph — a letra inicial do alfabeto hebraico, correspondente ao alfa grego e ao a dos alfabetos romanos — já não é mais fantasia: é física.
Uma característica das características de um holograma — a parte no todo e o todo nas partes — tem assustado os cientistas e modificado algumas concepções importantes sobre o Universo. Segundo o físico nuclear David Bohm, o Universo inteiro funciona como um holograma, em que cada uma das partes interpenetra as outras. Qualquer alteração se transmite ao Todo. Cada célula do nosso corpo reflete o Cosmo inteiro. Da mesma forma, to0do passado e as implicações para todo futuro também estão presentes em cada minúscula porção do espaço e do tempo. Resumindo: a totalidade de tempo e espaço encontra-se presente em cada ponto de tempo e de espaço. Nós contemos o Universo inteiro em nosso mundo, no nosso corpo, nas nossas células. Na verdade, cada parte do corpo o contem inteiro, numa perspectiva espaço-tempo, da mesma forma que cada pequena entidade do Universo reflete o padrão de sistemas infinitamente maiores, e da própria totalidade.
A holografia foi criada em 1948 por Dennis Gabor, húngaro que ganhou mais tarde o prêmio Nobel de Física.
O Aleph foi publicado por Jorge Luis Borges, escritor argentino, em 1949.
Da mesma forma que que o holograma assusta e encanta os cientistas, o Aleph de Borgas encanta seus leitores pela intelectualidade extrema do autor, o que exige foco total na leitura, uma atenção redobrada, um retomar e reler as 156 páginas que guardam labirintos de pensamentos e atiçam uma vontade de ler sempre mais.
Em sua maioria, “as peças deste livro — considerado pela crítica um dos pontos culminantes da ficção de Borges — correspondem ao gênero fantástico”, esclarece o autor no epílogo da obra. Nelas, ele exerce seu modo característico de manipular a “realidade”: as coisas da vida real deslizam para contextos incomuns e ganham significados extraordinários, ao mesmo tempo em que fenômenos bizarros se introduzem em cenários prosaicos. Os motivos borgeanos recorrentes do tempo, do infinito, da imortalidade e da perplexidade metafísica jamais se perdem na pura abstração; ao contrário, ganham carnadura concreta nas tramas, nas imagens, na sintaxe, que também são capazes de resgatar uma profunda sondagem do processo histórico argentino. O livro se abre com “O imortal”, onde temos a típica descoberta de um manuscrito que relatará as agruras da imortalidade. E se fecha com “O aleph”, para o qual Borges deu a seguinte “explicação” em 1970: “O que a eternidade é para o tempo, o aleph é para o espaço”. Como o narrador e o leitor vão descobrir, descrever essa ideia em termos convencionais é uma tarefa desafiadoramente impossível.
Em Borges, o conto Aleph, especificamente, o protagonista se depara com a possibilidade de conhecer o ponto do espaço que abarca toda a realidade do Universo, num local bastante inusitado: no porão de um casarão situado em Buenos Aires, prestes a ser demolido.
Já li Aleph, de Paulo Coelho — ler considerações que teci sobre esse livro em meu site: http://www.tortoro.com.br/blog/?p=2107 — e, segundo ele Aleph, da mesma forma que menciona Borges: “ é um ponto que contém todo o Universo, que leva a outra dimensão, em busca de respostas que podem transformar vidas”.
Enfim, a ideia de unidade na multiplicidade é tema borgiano por excelência e, no livro em apreço, sua exposição literária é primorosa não permitindo fazer neste meu artigo qualquer citação — caso eu tentasse fazê-las — porque as ideias seriam sempre maiores que as citações.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO